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Devastação urbana

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Eu vinha voltando para casa, num sábado, depois de ir ao mercado comprar ração para meu cachorro, quando me deparei com uma cena aterrorizante: homens, munidos de suas moto-serras e caminhões, estavam destruindo a paisagem de um dos trechos mais bonitos da malha viária urbana de Foz. Em poucas horas, cerca de dez árvores que produziam sombra, conforto térmico e agradavam nossa vista foram cruelmente cortadas sem ao menos uma consulta com a população do entorno, a maior prejudicada com a arbitrariedade.

Caro leitor, tente derrubar uma árvore na frente de casa. É fácil? Mesmo que você prove estar correndo perigo morando embaixo dela, terá de fazer algumas viagens à Prefeitura e ao IAP para conseguir – se conseguir – autorização. Mas isso só acontece ao cidadão, pois a recíproca não é verdadeira. O poder público pode chegar e arrancar as árvores urbanas livremente, sem consultar a comunidade do entorno, simplesmente baseando-se na análise dos engenheiros de trânsito que classificam a derrubada como “fundamental para adaptar o tráfego”. Isso seria razoável, tendo em vista a seriedade dos profissionais da área. Mas, veja bem, não são os mesmos engenheiros que pensam o transporte público de Foz? Há credibilidade neste caso?

Sábado pela manhã, com o argumento de construir recuos e contornos, dez árvores foram derrubadas na Avenida JK, esquina com a Xavier da Silva. Depois da ação predatória, era possível observar a mudança na paisagem urbana que, de arborizada, com boa sombra e melhor conforto térmico, ficou mais cinza, mais feia e muito mais quente. Alguns lojistas, antes protegidos pelas árvores, passaram a receber o sol da tarde – o pior – diretamente em suas fachadas. Veja a foto:

Não vejo problema em adaptar a estrutura urbana ao tráfego de veículos, mas faço algumas perguntas:

1 – Por que a população do entorno não foi consultada? Um dos princípios básicos da boa administração pública contemporânea é horizontalidade. O gestor público é um representante da população. O teocentrismo não vale na democracia e a vontade do administrador não é soberana. Para abrir ruas, cortar árvores e mudar a vida das pessoas, estas devem ser minimamente consultadas.

2 – Qual ação de mitigação está sendo tomada? Ou os moradores e comerciantes vão ter de engolir o dióxido de carbono e o calor? Foz recua na gestão ambiental urbana de avenidas com ações como essa.

3 – Estamos abrindo mais espaço para os carros, mas onde estão as políticas de criar alternativas ao cidadão como ciclovias, faixas de caminhadas e transporte coletivo de qualidade? Por que sempre valorizar os carros? Será esta a melhor política urbana? As grandes cidades fizeram exatamente isso há 30 anos e hoje correm atrás do prejuízo. Será que não podemos aprender com os erros dos outros ao invés de apenas repetir?

Sem falar que destruir árvores em um feriadão, com a cidade lotada de turistas visitando Foz por suas belezas naturais, há menos de uma semana de termos eleito uma das Sete Maravilhas da Natureza, ficou bem feio para a cidade.

Acredito que a política de mobilidade urbana deve contemplar não só os carros. Deve atender também às pessoas, ao meio-ambiente e ao visual urbano. Arbitrariedades ou ações baseadas apenas em laudos técnicos não condizem com o atual período. Participação popular sim.

Fica a dica às autoridades.

 

 


 

 
* Luiz Henrique Dias é escritor, estudante de Administração Pública e observador urbano. Siga ele lá no twitter: @LuizHDias ou acesse: luizhenriquedias.com.br

 

 

 

 

 A opinião emitida nesta coluna não representa necessariamente o posicionamento deste veículo de comunicação 

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