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Sobre a vida, a UNILA, os unileiros, a Martina e tudo mais.

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Há quase quatro anos começou minha história na Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA). Até então, eu era apenas uma jornalista muito jovem, que não entendia nada de universidade pública, que tinha pouca experiência de vida e de trabalho.

Entrei na UNILA no meio da confusão, com as aulas da primeira turma iniciando, com a chegada do então presidente Lula para proferir a aula inaugural, com estudantes chegando de – à época – três outros países além do Brasil.

Cada um deles – com sua nacionalidade, com sua cultura, com seu idioma, com seu sotaque – trazia consigo, em primeiro lugar, sua coragem de se jogar de cabeça num projeto pioneiro, visionário e, para muitos até então, utópico. Mas, esses bravos jovens traziam consigo também um brilho no olhar, um ideal de vida, um entusiasmo e um conjunto de sonhos com que me emociono até hoje.

No início, foi tudo muito difícil para todos. Foi árduo para nós, servidores, ajudarmos a construir uma instituição do zero, muitas vezes sem estrutura e até mesmo sem conhecimento para tanto. Tivemos muitas dúvidas, tivemos de buscar forças onde às vezes não havia mais. Foi árduo para os professores, cujas preocupações tiveram de ir muito além das aulas. Professores que se dedicaram exaustivamente a atividades muito alheias às suas obrigações pelo simples "amor à camisa".

Mas, creio que ninguém passou por mais dificuldades que os alunos: jovens, ainda no início de suas vidas, numa cidade diferente – e muitos num país diferente. Esses alunos não sofreram apenas com os tropeços da estrutura deficitária (compreensível para uma instituição que estava apenas engatinhando). Nós testemunhamos, em muitos momentos, nossos unileiros serem rechaçados pela comunidade iguaçuense. Por não compreenderem o propósito da Universidade, por terem uma mentalidade incrivelmente provinciana, por sabe-se lá o que, muitas pessoas criaram uma imensa resistência para com os alunos da UNILA.

Mal compreendidos pela comunidade, muitas vezes tendo sua imagem denegrida na imprensa, longe das famílias, quebrando paradigmas e iniciando um novo ciclo na história da região, eles sofreram, além de tudo, preconceito.

Preconceito este que vem sido combatido, porém, dia após dia, por toda a comunidade acadêmica. Seja por meio de projetos dentro da própria Universidade, ou por iniciativas individuais, estes jovens encontraram seu espaço na comunidade, mostraram a que vieram: e vieram para o bem, vieram com o sonho de ajudar a melhorar a realidade latino-americana em seus mais diversos aspectos.

E a Martina, que infelizmente não tive o prazer de conhecer pessoalmente, notoriamente – por tantos e tantos depoimentos carinhosos que temos visto por aqui – era talvez uma das pessoas que mais simbolizavam o otimismo, o engajamento, a alegria, o bom coração. Perdê-la desta forma representa, para todos nós que ajudamos a construir a UNILA diariamente, quase que perder um pedaço de nós mesmos.

Quem me conhece sabe que não sou de me expressar muito nesse tipo de situação, mas hoje senti necessidade de comentar um pouco desse sentimento que contagiou toda uma comunidade: a dor, a indignação, um vazio, uma sensação de estarmos sem rumo.

Não há palavras para expressar o dano que fatalidades como esta causam em nós, mas, por outro lado, tenho certeza de que para todos que conheceram a Martina foi um privilégio ter convivido com ela. E é por pessoas como ela, gente do bem, gente que quer fazer a diferença, diminuir as injustiças, que a UNILA é formada. Esse é o grande diferencial da UNILA. Não somos apenas uma universidade. Somos todos uma grande família: a Família Unileira. E, mesmo numa situação dolorosa como esta, não deixamos, nem por um segundo, de ter orgulho de fazer parte desta Universidade.

Que Deus possa confortar a família da nossa querida Martina neste momento. E a todos nós, que continuamos aqui, que não desistamos da luta. Por ela e por nós. Por todos os povos da América Latina.

 


 

 

 

 

    Mayara Godoy é jornalista, blogueira e servidora pública  federal. Este depoimento/desabafo representa a opinião de Mayara, não devendo ser relacioada à imagem da UNILA.

 

 

 

 

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