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Quando o Privado e o Público se unem contra o cidadão

 

Dia dos namorados e eu resolvo passear na feirinha da JK. Na realidade, não foi apenas pelo dia 12 de junho. Eu estava com saudades do lugar, do ambiente. Há semanas eu não frequentava a feira. E lá fomos, eu e a Gabriela (minha doce revisora e namorada), comer pastel, comprar verduras, tirar fotos e aproveitar a linda manhã de domingo. Terminado o roteiro (obrigatório a todos os iguaçuenses), resolvemos voltar para casa e, para isso, fomos até a terceira pista da JK esperar um ônibus e foi aí que tudo aconteceu.

Quando o Privado e o Público se unem contra o cidadão

 

Na terceira pista, ao lado da feira, a guerra (entre carros, pessoas e os ônibus do transporte coletivo) é sangrenta. A Guarda Municipal não fica por ali, muito menos a PM.
O FozTrans eu nunca vi por lá.

A organização de tudo fica por conta de alguns meninos pedintes e dois cuidadores de carros. Estes organizam o trânsito, param carros para outros carros saírem, orientam sobre distância entre os veículos estacionados, ajudam os visitantes da feira quanto à localização dos banheiros (do X-Kão) e até dão informações aos turistas!

Onde o poder público não pisa, a sociedade dá um jeito. 

Lá, na feira, domingo, ponto de ônibus é improvisado e sua localização, subjetiva. Eu imaginei mais ou menos onde ficaria a parada do transporte e, com bom humor, fiquei a esperar por um ônibus que me levasse para casa.

O sinal da JK abriu e os carros vieram descendo, vários, dentre eles, um ônibus, daqueles novos, pequenos, sem cobrador (aliás, com cobrador, mas este é o próprio motorista).

Como é comum por ali, ele parou para pegar um passageiro e, com isso, parou também todo o trânsito. Não era o meu ônibus, então fiquei apenas a observar aquela fila se formando: as pessoas nervosas, as buzinas e tudo mais. Um horror.

O motorista do ônibus, da Linha São Roque – me lembro –, depois da entrada do usuário, saiu contando as moedinhas do troco, dirigindo e, o mais assustador: com a porta aberta. Isso mesmo, nobre leitor, com a porta do veículo aberta!

Confesso, agora, que uma das minhas diversões ao andar de ônibus é ler os avisos e, recordo-me claramente, daquele que diz “é proibido trafegar com as portas abertas”.

Pois bem, se fosse só a porta aberta o problema, não haveria problema. Até porque, como falei, o FozTrans passa longe dali e o motorista não seria autuado. Mas o caso ficou grave quando a porta, aberta, arrancou o para-choque de um carro estacionado ali.

Parou tudo! Se trânsito e bebida não combinam, imagine se combina um motorista, dirigindo numa rua totalmente desorganizada, contando dinheiro e, ainda, com a porta aberta! Só poderia dar naquilo.
O barulho foi grande.

 
O motorista do ônibus desceu e foi lá ver o estrago. O dono do carro, que se preparava para sair, desceu também e iniciou a conversa: “o senhor está louco de andar com a porta aberta? Olha o que fez”. O motorista soltou a sua: “você deu ré e bateu no ônibus”.

Não pude conter a indignação e entrei na conversa: “eu – falei – vi e digo que ele estava com o carro parado e o senhor trafegava com a porta aberta. Sou testemunha”.

O motorista do ônibus negou a todo instante que estava com a porta aberta, mas ficou feio, porque a porta ficou quebrada justamente do lado de dentro, ou seja, estava aberta. Veja você mesmo na foto que fiz do celular e tire suas conclusões. 

Bom, aí começou o tumulto. O motorista do ônibus queria ir embora. O dono do carro não sabia o que fazer. Eu liguei para a Guarda Municipal (que deveria estar ali na feira) e o servidor, que atendia por lá, disse que era pra ligarmos para a PM. Assim fiz. A PM disse que não iria se não houvesse vítima e que deveríamos deslocar os dois veículos até o Batalhão.

E o motorista do ônibus querendo ir embora, como se nada houvesse acontecido.

Por sorte, uma viatura da PM passou por ali e consegui pará-la, mas os policiais nem quiseram descer da viatura. Tive que insistir bastante e, enfim, eles desceram, deram a mesma orientação (encaminhar os dois ao batalhão) e foram embora.

De repente, chegou um homem, creio que fiscal da empresa de ônibus. Alguém que mandava em motoristas. Bem poderoso na categoria. Ergueu a mão, parou um ônibus, colocou todos os passageiros (testemunhas, inclusive) do ônibus envolvido e ordenou que os levasse dali. Depois, foi na nossa direção. Falou grosso. Acusou o dono do carro. Disse ser impossível o motorista ter batido com a porta aberta (amigo leitor, olhe a foto novamente). Aí pegou o telefone e foi ligar para a empresa.

Meia hora depois, a Guarda Municipal – que por acaso passava por ali – chegou.

Eu argumentei, falei, expliquei, mostrei a porta do ônibus quebrada por dentro. Mas nada fez com que os guardas, pelo menos, pedissem ao motorista que fosse ao Batalhão fazer o B.O.. Foi então que aconteceu o mais bizarro: o fiscal (funcionário, sei lá) da empresa, falando grosso, disse: “a ordem da empresa é a seguinte: o ônibus segue sua rota e, na segunda-feira, o dono do carro vai lá pra gente conversar”. Eu olhei para o guarda e ele não falou nada! Então eu disse ser justo todos irem ao Batalhão e que aquele cidadão não iria receber o conserto nunca se o ônibus fosse embora.

E o fiscal: “não temos carro reserva, esse ônibus precisa ficar na linha, para o bem de todos”. Leitor, clamo: passe, no domingo, em frente ao pátio das empresas e veja que os ônibus estão todos parados. Faltam veículos nas linhas. Estão todos parados. Claro que há carro reserva.

Para piorar, o guarda municipal soltou: “esse veículo presta um serviço público, precisa ir”. Praticamente avalizou aquela patifaria. E o motorista entrou, fechou a porta quebrada e seguiu seu caminho. A viatura da Guarda foi embora e tudo ficou por isso mesmo.

O dono do carro foi embora sem para-choque e eu voltei para casa, frustrado – mais uma vez – com minha amada cidade.

Na segunda-feira, o dono do carro me ligou – deixei meu número de telefone com ele – para contar que foi à empresa e que o atendente disse não poder fazer nada e que a empresa “não está mais pagando essas coisas”. E não aceitaram ir até a PM fazer o B.O., de jeito nenhum.

O transporte coletivo de Foz do Iguaçu desrespeita quem está dentro do ônibus e também quem está do lado de fora. Alguns motoristas são imprudentes, irresponsáveis, abusados, trafegam à esquerda e – com o argumento de terem que cumprir horário – fazem tudo que não podem.

Ou melhor, em Foz, podem.

 

 

 


 

 *Luiz Henrique Dias é dramaturgo. Acesse: luizhenriquedias.com.br ou siga ele lá: @LuizHDias