No feriado de Nossa Senhora um festival de música no Brasil levou 164 mil pessoas até a longínqua Itu, no interior de SP. Foram ofertados 3 dias de rock e 4 de camping, uma espécie de “Itustock”.
O local: Chácara Maeda, contato direto com a natureza para reforçar a ideia de sustentabilidade. O espaço destinado ao evento foi de aproximadamente 200.000 m2. Nele, foram construídos 70 mil m2 de área coberta, entre áreas de alimentação, palcos, tendas e camarotes. Foram mais de setenta atrações musicais em quatro palcos distintos, formato de festival que só se via na Europa até então. Logo, alguns erros de logística eram fáceis de esperar em uma primeira edição. O que surpreendeu foi o grau primário desses erros…
Desorganização – a primeira coisa que chamou atenção era a falta de placas direcionando o acesso a Fazenda Maeda. Depois, foi a falta de orientação interna, com funcionários não sabendo indicar para que servia cada fila e onde ficava cada acesso (bilheteria do show, bilheteria do camping, camping, entrada para os shows, etc). Cada membro do Staff parecia que havia caído de pára-quedas para trabalhar lá e não sabia fazer nada além da sua função (quando pelo menos ela ele o sabia fazer). Certamente não passaram por um treino ou orientação geral, indispensável para um vento desse porte.
Fotos e vídeos: Augusto Conter |
Fila de mais de 7 horas para a retirada da pulseira que dá acesso ao Camping Comum em 9/10, por volta do meio-dia |
Falta de sacanagem – A maior parte dos mais de 3.000 que acamparam chegou no sábado pela manhã, antes dos shows, e, assim como a família Restart, ficou sem a pulseirinha! As vendas para o camping só ocorreram de forma antecipada e tinham sido finalizadas muitos dias antes do festival, logo, nada justifica o despreparo da organização que não disponibilizou um número suficiente de pulseiras para o público que chegou no sábado pelo fim manhã. Alguns ficaram mais de 7 horas sob o sol forte que fazia. Isso em uma aera que mais parecia um deserto, sem almoço, água ou sombra para amenizar o cansaço e o desconforto da espera.
Foram 6h15m de espera pela mnha credencial para o acesso ao quadradinho de terra comprado para armar a barraca. Palhaçada, uma vez que o mesmo foi adquirido previamente ao mesmo preço de um hotel de luxo na capital. Sem falar que atrapalhou na programação que as pessoas haviam feito para o início do festival. As intermináveis horas de espera na fila da bilheteria me fizeram perder os shows de Brothers Of Brazil, Black Drawing Chalcks, Macaco Bong e The Twelves, além de render algumas queimaduras no corpo.
A saga dos banhos – Uma coisa que não contei acima é que a espera na fila também foi justificada pela falta de vale banhos, outro erro primário, uma vez que eles tinham o número de pessoas que chegariam ao local. Eram 4 vales para cada um que foi acampar. Mas, bem que podiam ser só um… Pois foi esse o número de banhos que a maioria conseguiu tomar. Eram dez chuveiros para a ala masculina e mais dez para a feminina para mais de 3.000 pessoas acampadas. Foram 8 horas por dia de disponibilidade para os banhos, das 10 às 14h e das 0h às 4h. Ou seja, se todos decidissem tomar banho todos os dias, o último da fila levaria um dia e meio para conseguir. Eu só tomei um, com 1h20 de espera em pé em filas que lembravam um matadouro. Foi o suficiente para me manter longe daquele lugar e aderir às garrafinhas de água na nuca e no rosto.
O banho funcionava em um sistema para promover o consumo consciente: apenas 7 minutos de chuveiro ligado. O engraçado é que, mesmo durante o dia, fortes lâmpadas ficavam ligadas interruptamente na frente das tendas reservadas para a higiene pessoal. Estranha forma de promover o gasto consciente… E não era só lá, por todo o camping desperdício de postes de luz ligados mesmo debaixo de um sol de rachar.
A saga dos “Achados e perdidos” – Como não comentar esse fato inusitado. Em um festival desse tamanho com atrações calorosas como Rage Against The Machine e Queens Of The Stone Age era óbvio que muitas carteiras, celulares e demais objetos pessoais seriam perdidos por grande parte do público ali presente. Logo, nada mais natural que um local destinado aos “Achados e perdidos”.
Alguns tênis encontrados logo após o fim do show do Rage Against The Machine |
No caso do SWU, era um grande container, sem nenhum balcão ou sequer um membro da organização trabalhando no local. Apenas um grande espaço vazio e sem iluminação onde muitas pessoas deitavam no chão para tirar uma soneca. Uma hora ou outra, aparecia alguém desesperado gritando por algum objeto perdido. Todas as cenas que presenciei, infelizmente eles estavam lá em vão.
Confusão no show do RATM – show foi parado por alguns minutos após barra de ferro da pista VIP ceder, possibilitando a invasão da audiência do setor comum
Alto custo – Não era permitido entrar no evento portando bebidas e alimentos. Bebidas e lanches eram absurdamente caros (R$ 4,00 uma garrafa de água 300ml, R$6,00 a lata de cerveja, R$6,00 um espeto de carne e R$10,00 o cachorro quente), mas isso é de praxe dos shows de rock no Brasil (nem por isso justificável).
Há mais há se criticar, como trânsito intenso, queda dos sistemas de cartão de crédito e número insuficiente e falta de higiene dos banheiros químicos, mas, se for abordar tudo o que não saiu como deveria dificilmente você terá paciência de seguir até o fim do texto. Enfim, faço essas críticas pois elas precisam ser feitas e, ao meu ver, não estavam sendo! Um portal ou outro abordou o assunto e a Globo, como patrocinadora do evento, fez questão de fingir que não houveram, bem como de cortar o sinal do show do Rage Against The Machine quando Tom Morello colocou o boné do MST.
Rage Against The Machine: show censurado pela Rede Globo |
Todas as críticas que pontuei são construtivas e servem apenas para informar os que não tiveram presentes, representar os prejudicados e em prol de um SWU 2011 melhor, mais preparado para o mega evento que é.
Para não dizer que não falei das flores, a pontualidade foi um ponto forte bastante reconhecido pela audiência! O único show que começou com um atraso significativo foi o do Queens Of The Stone Age (mais de uma hora). O restante, quando atrasava era no máximo dez minutos. Trocas de palcos agilíssimas também no Oi Novo Som, que tinha uma escalação tão, mas tão boa, que poderia ser até um festival a parte.
Autoramas: atração calorosa do palco Oi Novo Som |
A escalação de atrações no geral foi de primeira classe. Heineken Green Space daria conta de ser uma rave por si só das melhores do Brasil. Há de se aplaudir a iniciativa de trazer para o país tantas atrações juntas há um custo pagável. O preço foi criticado por muitos que gostam de criticar por criticar. Afinal, se for por na ponta do lápis, cada entrada diária (para assistir diversos shows entre atrações internacionais e nacionais) não paga uma apresentação solo de uma atração internacional. Um ingresso para o AC/DC, Green Day ou para o show do Paul McCartney, por exemplo, estão e estavam acima de R$ 200.
MSTRKRFT: atração de primeira linha da tenda eletrônica Heineken Green Space |
No final das contas, sempre vale uma aventura e economia para ver aquela banda que você ama ao vivo! Eu, pelo menos, faria tudo de novo. Talvez não ficando no mal organizado camping… mas, aí é detalhe perto da experiência única que vivenciei. Viva a música!