Previous slide
Next slide

A Cidade e seus Muros

Previous slide
Next slide

 

 

Eu tenho um amigo que virou vereador.

 

E eu sempre fico no pé dele, falando sobre o que penso da cidade e do mundo e ele, saudoso amigo e defensor das boas casas, ouve, contesta, explica, ouve novamente e, quando acha meus argumentos minimamente razoáveis, tenta colocar minhas ideias em algum projeto, dentro das possibilidades políticas e da conjuntura, algo que, graças a essas conversas, aprendi a entender.

 

Aprendi, também, a saber diferenciar bem a função do vereador e do executivo. Aprendizado que recomento ao nobre leitor, isso ajuda nos julgamentos e, é claro, no voto.

 

Dia desses eu fui até meu amigo vereador para reclamar dos muros da cidade.

 

Foto: Gabriela Keller
Eles se proliferam por todos os lados, não só cercando casas, mas, principalmente, os novos empreendimentos imobiliários: os loteamentos fechados

 

O que antes era construído para proteger uma casa, com altura consideravelmente baixa e dotado de grades, garantidoras de segurança e não inibidoras da visão, agora se faz para cercar bairros inteiros. Centenas de casas colocadas dentro de quatro muros de mais de cinco metros de altura, separando da cidade milhares de pessoas.

 

Nunca me esqueço quando, em certa ocasião, fomos nós alunos da faculdade de arquitetura visitar um desses loteamentos – erroneamente chamados condomínios – e, ao ver meus colegas vislumbrados com a grandiosidade das casas e dos gramados, não pude parar de demonstrar meu descontentamento em estar dentro de uma prisão urbana, para onde os condenados pelo terror da vida em sociedade são levados para uma clausura terrível e onde viverão ao lado de seus iguais, sentindo a falsa impressão de segurança.

 

Do lado de fora, esses muros acabam com a cidade.

 

Eles poluem a vista, bloqueiam a circulação de ar e o acesso ao sol, criam túneis de violência, onde trabalhadores são assaltados e mulheres podem ser violentadas, servem ao acúmulo de lixo e animais mortos e, principalmente, segregam. Privam do direito à cidade e à diversidade. Limitam os direitos de ir e vir. Acabam com o sentido de rua: um local de encontro e de reconhecimento sociológico.

 

E fico a ouvir os velhos argumentos individualistas, ditos através de interlocutores da especulação imobiliária e da indústria da segurança privada, de que as pessoas tem o direito de se protegerem. É a velha lógica do “eu estou seguro e dane-se quem está lá fora”.

 

E meu amigo vereador toma seu café e fica a pensar em tudo que eu disse. Se eu o conheço, vai agir. Se eu o conheço, vai cumprir seu papel de representar uma cidade, e não uma casta parasita. Quanto tempo isso leva? Não sei. Mas em política, a paciência joga a favor.

 

 


 
 

* Luiz Henrique Dias é escritor. Leia mais em www.blogdoluiz.com.br ou siga o Luiz no twitter: @LuizHDias

 

 

 

 

Previous slide
Next slide