Fotos: Click Foz do Iguaçu – Daniele Rodrigues |
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Raul Plassmann foi goleiro de Cruzeiro e Flamengo |
O ex-goleiro Raul Plassmann conseguiu um feito que poucos jogadores de futebol conseguiram na carreira. E não se trata de títulos. Até porque, títulos são o que não faltam para Raul. Campeão por duas vezes da Libertadores da América – em 1976 com o Cruzeiro e 1981 com o Flamengo, onde conquistou o mundial no mesmo ano – além de três campeonatos Brasileiros em 80, 82 e 83, todos com o rubro-negro carioca. Sem contar a Taça Brasil de 1966 pelo Cruzeiro e os diversos títulos estaduais, tanto com a equipe mineira, quanto a do Rio de Janeiro.
Porém, o feito de Raul foi outro. Ele jogou por três décadas diferentes. “Não todas completas, porque ninguém consegue jogar futebol por trinta anos, mas vi as transformações do esporte em três períodos diferentes”, revela o ex-goleiro de 65 anos. E esses três períodos foram o final da década de 60, toda a década de 70 e início dos anos 80.
Natural de Antonina, próxima a Curitiba, Raul jogava algumas “peladas” de bairro. Nunca teve a ambição de atuar profissionalmente no futebol. Mesmo assim, ingressou a equipe juvenil do Atlético Paranaense. Depois foi para o Coritiba. Após uma rápida passagem pelo São Paulo em 1965, foi emprestado ao Nacional do Uruguai, onde nem chegou a atuar. Mas foi no ano seguinte, em 1966, em que começaria a dar um grande salto na profissão. Defendeu as cores do Cruzeiro, uma das melhores equipes à época, por 12 anos. De 1966 a 1978. Nos seis anos seguintes atuou pelo Flamengo, onde encerrou a carreira e é considerado ídolo da torcida até os dias de hoje.
Raul Plassmann irá comentar o jogo Cascavel e Coritiba, no domingo (21) no estádio Olímpico Regional, em Cascavel, pela RPC. É a última rodada da primeira fase do Campeonato Paranaense. Apenas de passagem por Foz do Iguaçu, Plassmann recebeu a equipe Clickfoz.
Clickfoz: Você passou pelos dois maiores times do Paraná, Atlético e Coritiba. Sabemos que a rivalidade entre esses dois times é grande. Como lidou com isso?
Raul Plassmann: O torcedor dificilmente entende uma coisa quando é contrária ao gosto dele. Este é o perfil do torcedor, faz parte dele. Eu digo que gosto mais do estado do Paraná, do que propriamente o clube. Pelo fato de eu ter iniciado a carreira no Atlético-PR, tenho um carinho especial pelo time, afinal, foi lá que comecei. Mas a mesma situação é no Coritiba, pois também era início de trabalho. E o torcedor acaba pensando que fico em cima do muro, que não quero me decidir, mas não é isso. Eu não posso dizer que torço pro time A ou time B no Paraná. Até porque, eu saí do estado e morei muitos anos fora.
Clickfoz: Nos tempos em que atuava pelo Flamengo, um dos maiores rivais era o Atlético Mineiro, arquirrival do Cruzeiro, outro grande time pelo qual jogou por tantos anos. Como foram esses duelos contra o Atlético Mineiro, atuando pelo Flamengo?
Plassmann: Esta é outra questão interessante. Às vezes as pessoas me perguntam se eu sou mais Flamengo ou mais Cruzeiro. É difícil os torcedores entenderem que como jogador, não posso tomar a mesma postura do torcedor, de que não posso torcer. Eu torço, sim, pelo time em que estou atuando naquele determinado momento. É assim que funciona. Para um ex-jogador de futebol, o que há é o reconhecimento pela equipe em que jogou. Pelo menos deveria haver. De minha parte há. Tanto que eu costumo dizer que pratico a poligamia, ou seja, tenho muitos amores. O Flamengo foi algo especial, Cruzeiro a mesma coisa. Em relação aos confrontos com o Atlético-MG, foram confrontos de gigantes. Tive grandes duelos com outras equipes também, como o Internacional, na época em que eu estava no Cruzeiro e o Grêmio, isso já no Flamengo. Mas o maior adversário que encontrei na minha vida foi o Atlético Mineiro.
Clickfoz: Em uma carreira marcada por grandes conquistas, houve espaço para alguma decepção?
Plassmann: Muitas pessoas me perguntam se não ter jogado uma Copa do Mundo me fez mal. Mas posso garantir que no futebol, nada me faltou. Tudo que disputei, eu ganhei. Claro que jogar uma Copa do Mundo pela seleção brasileira seria algo espetacular. Não foi possível. Tive alguns probleminhas de contusão. Em 1982 eu era titular, naquela seleção considerada a melhor de todos os tempos, embora eu ache a de 70 a melhor. E tive uma contusão em um amistoso contra a Polônia, no Morumbi. Fiquei quatro meses parado, e nesse período ele (Telê Santana) convocou o Valdir Perez que acabou jogando a Copa do Mundo. Quando eu voltei a jogar, não havia mais espaço pra mim, o grupo já estava formado e não tive chance de jogar na seleção. Por ter feito parte da campanha das eliminatórias e não ter sido convocado por causa de uma contusão, acaba sendo uma justificativa para mim mesmo. Nem posso ficar frustrado com isso. No dia da convocação definitiva para a Copa do Mundo de 82, o repórter Renato Maurício Prado, que cobria o Flamengo veio falar comigo. ‘Poxa, Raul. Que pena por você não ter sido convocado’. Eu disse ‘tudo bem, quem joga no Flamengo não sente falta’. Mas não quis desmerecer a seleção brasileira. Seria maravilhoso poder jogar uma Copa do Mundo, mas os títulos que tive em clubes me preencheram.
Clickfoz: Hoje o Julio César é considerado um dos melhores goleiros do mundo. O Brasil, de certa forma vem destacando bons goleiros nos últimos anos. Em sua opinião, o que tem contribuído para essa visualização maior da posição de goleiro?
Plassmann: Em primeiro lugar, a divulgação. Hoje você tem a internet, praticamente todos os jogos são transmitidos ao vivo pela televisão. O mundo inteiro passou a ter essa integração e a partir deste momento, eles passaram a conhecer o goleiro brasileiro também. Então, tudo isso ajudou bastante. Por outro lado, há também a evolução nos treinamentos. Agora tem treinador de goleiros. Na minha época não tinha nada disso. No máximo um camarada que chutava as bolas ao gol. Agradeço-o por isso (risos). Hoje é tudo mais estudado. Termina o jogo, e no dia seguinte o goleiro vai treinar. O treinador analisa com o goleiro a participação dele no jogo. Portanto, há uma preparação muito maior nessa posição. E o goleiro brasileiro é um ‘caxias’, ele adora treinar, e com certeza isso contribuiu para a evolução.
Clickfoz: A Taça Libertadores da América, torneio mais importante do continente é conhecida por muita garra e determinação. Ela mudou em relação aos tempos em que jogava?
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Plassmann conquistou duas Libertadores e um Mundial |
Plasmann: Em termos de importância, pode-se dizer que ela melhorou. Antes participavam apenas o campeão e vice do Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Agora ela está mais inchada. Participam o campeão da Copa do Brasil, o terceiro, quarto colocado, o atual campeão da Libertadores, mexicanos – que se forem campeões não podem ir ao Mundial – às vezes muita gente que não merece, está disputando a Libertadores. Eu gostava da Libertadores no meu tempo, e não é saudosismo. É porque ela era uma coisa mais filtrada, apenas o campeão e vice dos torneios nacionais participavam. Outra diferença, é que agora, com a transmissão de praticamente todos os jogos, os árbitros estão sendo obersvados. Na época em que eu jogava, os times da casa levavam vantagem. Pois o árbitro acabava sentindo medo da torcida, seja ela chilena, paraguaia, uruguaia, argentina e ele acabava beneficiando o time da casa. Mas ela continua com a mesma pegada, a mesma garra e determinação.
Clickfoz: Você foi um dos primeiros a inovar na cor da camisa do goleiro. Antes era preta ou cinza, e você surgiu com a camisa amarela. Como surgiu essa ideia de trocar a cor da camisa?
Plassmann: Foi uma coincidência, pois na época tudo não existia tudo era muito arcaico. Quando fui jogar e vestir a camisa de titular, a camisa não entrou em mim, era pequena. E peguei uma camisa emprestada de um jogador. Era uma camisa de passeio, um moletom de cor amarela. Colei o número 1 com esparadrapo nas costas e fui para o jogo contra o Atlético Mineiro (a partida terminou empatada em 0 a 0). O pessoal achou aquilo um absurdo. Houve preconceito. Insinuaram que eu era homossexual. Coisas absurdas deste tipo. Mas o presidente do Cruzeiro (Felício Brandi) adorou aquela inovação, porque no dia seguinte ninguém falava do jogo, só dava a camisa amarela. Então, o presidente mandou fazer dez camisas amarelas e me deu de presente. E depois que passei a usar a camisa amarela, os goleiros também começaram a mudar. No começo relutaram um pouco, por medo de serem hostilizados, mas depois, com a TV a cores, tudo isso mudou.
Clickfoz: Agora conte um pouco sobre a sua carreira de comentarista de futebol. De que maneira ela começou?
Plassmann: Foi direto. Assim que terminei meu jogo de despedida no Maracanã, eu recebi o convite da rádio Tupi (RJ). Aceitei e passei a ser comentarista. Fiquei dois anos na rádio Tupi, foi então que a TV Globo me convidou também para ser comentarista. Foram oito anos na Globo. Nesse tempo, a Globosat criou o canal Sportv. A Globo chamou o Paulo Roberto Falcão e eu fui para o Sportv. Larguei por um período, fui morar em Londrina, depois Curitiba. Mas voltei há pouco tempo a integrar a equipe do Sportv e agora da RPC TV.
Clickfoz: Teve uma curta experiência como treinador e dirigente de futebol do Londrina Esporte Clube. Por que essas carreiras não deram certo?
Plassmann: Eu morava em Londrina, isso em 2003/2004 e o pessoal de lá me pediu uma ajuda para tentar recuperar o time que não passava por uma boa fase. Acredito que é incompatível você trabalhar com uma mentalidade de time grande, em um clube que passa por dificuldades. Londrina era uma cidade em que não se aceitava uma mudança radical. Parte da imprensa me questionava: ‘Você está pensando que isso aqui é o Flamengo?’. Quando eu fazia a preleção, o repórter queria estar junto, eu não deixava. E não era só a imprensa que era contra, parte da cidade e também dos torcedores, eles não aceitavam que eu fizesse as mudanças necessárias. Tornou-se um confronto muito grande e resolvi sair. Poucos dizem isso, mas a maioria dos clubes pequenos joga para não cair. E têm equipes que estão apenas fazendo média dentro de campo.
Clickfoz: 2010, ano de Copa do Mundo. Quais as apostas de Raul Plassmann para a conquista do título?
Plassmann: Em Copa do Mundo não há favoritos. É um torneio curto, que dificilmente perdoa o erro e se tiver um momento ruim, ou um jogador que não estiver num dia feliz, pode acabar derrotado. Pego de exemplo a Copa de 1982, quando o Brasil era melhor que a Itália, mas cometeu dois ou três erros, foram suficientes para os italianos vencerem e eliminarem o Brasil. Então não dá para apontar os favoritos ao título. Existe, claro, aquelas seleções que são tradicionais como o Brasil, Itália, Alemanha, que não podemos deixar de citar, mas ninguém é favorito.