Entre as principais conclusões da 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta (FIB), que se encerrou nesta segunda-feira (23) meio dia em Foz do Iguaçu, está o fato de que se trata de uma tendência que veio para ficar. Durante quatro dias, representantes de governos, empresas, ONGs e especialistas demonstraram como o tema vem ganhando espaço em todos os tipos de organização, nos três setores da sociedade. “Desde 1998, quando as Nações Unidas nos pediram para compartilhar com o mundo a metodologia que vínhamos desenvolvendo desde os anos 1970, pudemos perceber que a ideia de que os governos devem garantir as condições para que seus cidadãos sejam felizes está se expandindo”, afirmou o primeiro-ministro do Butão, Jigmi Thinley.
A quinta edição da conferência, organizada pelo Instituto Visão Futuro em parceria com a Itaipu Binacional, é a primeira a ocorrer em solo latino-americano, o que por si só comprova que o conceito está ganhando cada vez mais adeptos. O FIB é um conjunto de 72 indicadores de bem-estar social agrupados em nove dimensões: bem-estar psicológico, uso do tempo, vitalidade da comunidade, cultura, saúde, educação, diversidade do meio ambiente, padrão de vida e governança. Entre as experiências de adoção dessa metodologia apresentadas durante o evento estão as da Natura, do governo do Canadá, da Prefeitura de Itapetininga (SP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
“Com a busca incessante pelo incremento do PIB ficou demonstrado que o crescimento econômico não pode ser sustentado. Que desenvolvimento existe quando não há mais florestas e quando a água e o ar estão contaminados?”, questionou Thinley. “Por isso, não temos alternativa a não ser buscar outro caminho. Não queremos dizer que o FIB é o melhor ou o único caminho, mas indica que é importante que a sociedade discuta novos parâmetros de desenvolvimento”.
Pela metodologia do PIB, o crescimento dos acidentes de trânsito tem impacto positivo na sociedade. Isso porque aumentam os gastos com oficinas mecânicas, reposição de peças, seguro e hospital. Citando esse exemplo, o diretor de Coordenação e Meio Ambiente da Itaipu, Nelton Friedrich, destacou a necessidade de dar prosseguimento às discussões iniciadas durante o evento. “Este não é um encerramento. É apenas uma etapa que foi cumprida”, disse. “Não se trata de uma mera discussão sobre indicadores, mas de uma profunda reflexão que abrange o próprio sentido da existência”.
Durante o encerramento do evento, a coordenadora do Instituto Visão Futuro, Susan Andrews, alertou para o cuidado de não banalizar o conceito de FIB, pois não se trata de um modismo nem de apologia à pobreza. Ela reforçou que, entre um estado de miséria e um estado em que a pessoa pode se dar alguns luxos, maior conforto material significa, sim, melhores índices de felicidade. E citou o Nobel de Economia Amartya Sen, que afirma que a felicidade em condições adversas não é justificativa para se permanecer nessas condições. “O FIB é, antes de tudo, uma discussão sobre justiça social”, concluiu.