Compreender como surgem as lideranças políticas nas comunidades indígenas na tríplice fronteira, de que forma se articulam, criam estratégias e alianças de luta – inclusive com organizações não indígenas – são algumas questões que compõem o trabalho de pesquisa científica Um lugar na natureza: a luta pelo território entre povos indígenas transnacionais. O estudo está sendo realizado pela professora de Antropologia da UNILA Senilde Guanaes, juntamente com alunos bolsistas e voluntários.
O grupo participou no início de dezembro da quarta edição do Encontro Regional de Lideranças Indígenas, na Base Náutica de Santa Helena. Em debate, políticas de atuação e soluções para regularização de terras. A delegação da UNILA foi convidada para participar do evento e conhecer de perto a realidade das comunidades indígenas guaranis da região do oeste do Paraná.
“Em relação à luta pela terra, é incrível a capacidade de negociação e articulação dos guaranis de modo geral. Eles se instrumentalizam inclusive com discursos jurídicos sobre a questão”, diz a professora Senilde Guanaes, que pontua a necessidade de políticas uniformes por parte dos guaranis da região trinacional para facilitar o processo de luta.
Povos indígenas transnacionais – A pesquisa científica, que faz parte do Programa de Bolsas de Iniciação Cientifica (PROBIC), teve início em outubro. Na primeira etapa foi feito o mapeamento dos grupos indígenas na região da tríplice fronteira, identificação dos líderes das comunidades e das formas de organização. A ideia é entender como as lideranças são constituídas e como se dá o processo de formação delas.
“O estudo nos mostrou que os papéis de liderança nas aldeias indígenas não são só exercidos pelos caciques como também por agentes de saúde e professores bilíngues. Notamos também que independentemente de quem seja o líder, o pajé é sempre consultado para a tomada de decisões”, explica a pesquisadora.
A próxima etapa do estudo terá como um dos objetivos entender e aprofundar a questão da mulher no papel de liderança, uma vez que os líderes nas comunidades indígenas, como a Avá Guarani, são majoritariamente masculinos.
O projeto de pesquisa pelo PROBIC termina em maio, mas a ideia é que esse estudo possa ter uma continuidade. “É fundamental que a UNILA pesquise este tema sobre povos ancestrais. Os guaranis são exemplos mais ricos e vivos de integração. Eles não têm noção de limite fronteiriço, pois o que existe é uma nação guarani, unidos pela língua e cultura comum”, diz.