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No tempo do meu Castanho

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Ouvi o galopar dos cavalos ao longe, vindo da planície verdejante e orvalhada em minha direção. Não havia cercas que os impedissem de ir e vir quando quisessem. Eu as tinha arrancado, esperando ansiosamente esse momento. Levou muito tempo para ouvi-los outra vez e agora se achegavam a mim devagar, arfando, com olhares meigos e cheios de cumplicidade. O meu preferido, Castanho, aproximou-se num trote delicado, de mansinho e meneava a cabeça como quem pede desculpas pela longa ausência, pedindo carinho, insinuando que eu o montasse. Acariciei o dorso, as crinas e seus grandes olhos castanhos olhavam-me com uma ternura que doía e meus olhos ficaram borrados de uma maré sem culpas. Seu pelo brilhava à luz do sol e suas ancas eram fortes e bem desenhadas. Calma, eu falava, descanse um pouco e eu o montarei e iremos conquistar terras não sonhadas e castelos de nuvens onde só nós saberíamos como encontrar, para nos escondermos nos tempos ruins e lá colheremos maçãs e ervas para o nosso sustento. Corri para dentro, dizendo a eles que esperassem um momentinho, e arrumei um cesto cheio de maçãs e cubinhos de açúcar que usava para adoçar meus chás. Distribui maçãs a todos e, logo, estava rodeada por crinas e músculos que reluziam à luz do sol. Gritei para eles que o celeiro estava aberto e que poderiam se servir de alfafa e água o tanto que quisessem e, como crianças que correm num piquenique para comer torta, eles se foram e aproveitei para montar em pelo em meu Castanho. Agarrada em suas crinas, galopamos sempre rodeados de borboletas amarelas e libélulas. Galopamos por algum tempo que não se conta e nem se mede. Sumimos no horizonte da planície verdejante ao encontro de terras não sonhadas e castelos de nuvens e meu Castanho alçou um voo levemente íngreme, subindo cada vez mais alto e, logo, nos misturamos ao branco das nuvens, ao azul anil do céu daquela primavera e as borboletas amarelas e as libélulas foram ficando para trás, até tornarem-se invisíveis. E o que se via era apenas o verde desbotado em que a planície transformava-se. Não olharíamos mais para trás. Não entendíamos nada disso sobre regresso e planos…

 

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