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O cadeado na porta do teatro

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Toca o telefone, sábado, 18 de junho, às seis e meia da tarde, e eu em Brasília, num Seminário sobre políticas públicas. Atendo e sou surpreendido por uma voz dizendo “a sua cidade, em matéria de cultura, é uma vergonha”.

O CADEADO NA PORTA DO TEATRO

Eu tentei ir pra cima de imediato:

– Ora pois, como “minha cidade é uma vergonha em matéria de cultura?”

E de fato, caro leitor – já falei aqui -, sabemos: claro que não somos uma vergonha. Mas, refletindo depois, dei razão para quem estava do lado de lá do telefone. Vamos analisar o caso:

Fiquei sabendo, pela imprensa, durante a semana passada, que, no último sábado, dia 18, aconteceria uma apresentação teatral no único teatro da cidade, lá pelas bandas da Praça da Bíblia. Uma peça profissional, muito legal, inclusive, com uma temática culturalmente acessível e de entrada franca.

Fiquei eu sabendo que o espetáculo vinha de longe, faria uma circulação regional e terminaria o roteiro aqui em Foz. Li o currículo da companhia – extremamente profissional – e o resumo do trabalho. Achei uma pena eu não estar em Foz para assistir, mas estava com viagem marcada à Brasília.

Pois bem.

O meu telefone tocou e era uma das produtoras da peça. Da tal peça. E eu, que não acompanhei os detalhes na mídia, fiquei surpreso em saber que havia uma pessoa conhecida por trás daquele trabalho. Fiquei feliz com essa primeira notícia. Mas a notícia seguinte, hum, desagradou:

– Luiz, são 18h30, a peça está marcada para 20h00. O grupo está aqui, chegou há certo tempo, e já há pessoas para assistir a peça, crianças, só que o teatro está trancado. Tem um cadeado no portão.
Para tudo! Teatro em Foz, sábado, espetáculo de qualidade, de graça e o teatro fechado?

Estranho.

Todo mundo que faz teatro ou que tenha um pouco de sensibilidade – até quem tem bem pouco, eu diria – sabe que um grupo, profissional ou não, precisa de algumas horas para montar seu palco, habituar-se ao teatro, maquiar-se, etecetera e tal. Permitir isso é, no mínimo, respeitar o trabalho das pessoas. E ela, a produtora, continuou:

– Já liguei para os responsáveis pelo teatro e ninguém me atende!

Pra quem não sabe, o Teatro em questão, apesar de público, é concedido, em contrato de comodato (ou algo do gênero), há quase um ano, a um grupo teatral da cidade. Este grupo, por utilizar o espaço, é responsável – pelo menos – por abrir e fechar o cadeado em dias de apresentações.

Depois de algumas ligações – sou um simples mortal, mas com uma agenda de celular repleta de numerozinhos mágicos –, consegui, por terceiros, contatar alguém portador de uma das chaves do cadeado e, por volta de 19h10, o portão se abriu.

Parece que teve até choro por lá. Foi um rolo danado.

A peça (um sucesso, soube) foi apresentada e tudo acabou dando certo.

      Essa história de terceiro setor em tudo, sinceramente, me cansa

Desse episódio, que poderia ter acabado em tragédia cultural, fica-nos uma reflexão que já fiz em relação a outros serviços, como o transporte: serviço público deve ser público. Essa história de terceiro setor em tudo, sinceramente, me cansa. Ou é privado, ou é público. Não há outro caminho. Privado é mercado, restaurante, boutique de madame, loja de cueca, etc. O que é dever do Estado – e inclui-se a cultura – deve ser público, fomentado com dinheiro público e coordenado pelo Governo, que deve cuidar, preservar, criar agenda, pintar, colocar iluminação, etc. e, se esse não faz, não devemos dar para o tal terceiro setor fazer. Devemos e vamos cobrar que façam. Cobrar que atuem. Cobrar que resolvam. Cobrar, cobrar e cobrar até fazerem e pronto. É nosso direito.

E eu poderia ter dito à minha amiga, quando acusou nossa cidade, que Foz do Iguaçu, eu ou qualquer outro cidadão (que não fosse aquele com a chave do teatro no bolso) não era responsável por aquilo. Que nossa cidade tem, sim, cultura e tem, sim, gente responsável, gente séria. Eu queria ter dito para ela que a culpa não era de Foz do Iguaçu. Mas eu estava tão envergonhado por algo totalmente fora de meu alcance e responsabilidade que fiquei sem palavras. Envergonhado.

Passou segunda, passou terça e, como ninguém ligou para ela (a produtora) para pedir desculpas ou já que ninguém atendeu o telefonema dela, sempre em busca de explicações, fiz questão de ligar para pedir desculpas pela cidade, para dizer não ser normal tal situação e pedir a ela que não tire a cidade do roteiro de circulação de outras peças (profissionais e gratuitas). Eu não sou nada, não sou do Poder Público e nem do terceiro setor. Nem tenho uma chave do cadeado do Teatro. Mas moro em Foz, sou cidadão, e não quero ver minha cidade prejudicada. Minhas únicas armas para defender a cidade é um telefone celular e essa coluna no Clickfoz. E só.

Então liguei para lamentar e escrevo para alertar.

 

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 *Luiz Henrique Dias é dramaturgo. Acesse: luizhenriquedias.com.br ou siga ele lá: @LuizHDias

 

 

 

 

 

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