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O Motorista de Placa Paraguaia

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Estava eu parado na janela do trabalho, tomando um ar e vendo o movimento da Avenida JK, em plena manhã de sol, desta terça-feira, quando de repente, um cidadão resolve parar no sinal vermelho. Até aí seria tudo normal se, atrás dele não viesse um carro em alta velocidade, disposto a furar o sinal e, baseado no princípio físico de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, batesse, depois de uma frustrada freada, na traseira daquele que, apenas, parou ao ver o sinal vermelho

E fugiu.

Sim!

Deu uma ré, furou o sinal e fugiu. Até tentamos anotar a placa, sem sucesso. Só deu para perceber que era um carro do Paraguai. Não era um daqueles famosos táxis, ou vans. Era um carro desses bonitos, caros, potentes, daqueles que os paraguaios, em sua grande maioria, não podem comprar.

Não quero dizer aqui, de forma alguma, que ele bateu ou fugiu por ser paraguaio. Jamais falaria uma besteira dessas. Não quero, também, deixar entendido que sou contra a circulação de carros paraguaios ou de qualquer nacionalidade pelas ruas de Foz. Somos uma cidade plural, única. Quero, apenas, levantar um tema que, há tempos, venho discutindo nas rodinhas de conversa: os brasileiros, moradores de Foz do Iguaçu, que usam carros de placa paraguaia.

Começamos assim: não pagam impostos no Brasil, como o IPVA, mas usam, diariamente, as ruas da cidade. Compram carros, também, pagando menos impostos.

Isso, levando ao pé da letra, é sonegação fiscal.

Grande parte dos veículos é movida a diesel, o combustível mais sujo do mercado, e, também, vetado nos automóveis brasileiros de passeio.

O resultado disso é, além da injustiça com todos os moradores do Brasil que compram carros no Brasil, a cidade saturada de seus próprios moradores sem, ao menos, contribuírem para isso.

É a velha máxima do individualismo. Se estiver bom para mim, está bom.

Ouvimos, diariamente, histórias de pessoas que arranjam endereços no Paraguai para conseguir tirar carteira de habilitação no país vizinho e, assim, circular pela cidade com seus veículos, como se fossem moradores do lado de lá da ponte. Sem falar nos adolescentes, muitos inconsequentes, armados com suas carteiras de motorista feitas sem os critérios de formação exigidos no Brasil.

Por fim, ser multado usando placa estrangeira é bem melhor. Dificilmente se terá que arcar com as consequências das multas. Isso favorece a falta de cuidado no trânsito e impunidade de quem comete erros.

Aí, quando fatos como o do carro de placa paraguaia que bateu na traseira do veículo parado no sinal vermelho ocorrem, ficamos a pensar: como fazer para cobrar o prejuízo? E se fosse um atropelamento? Como faríamos para localizar o motorista. Não há seguro obrigatório, não há garantias.

Penso que carro com placa brasileira para quem mora no Brasil. Placa estrangeira para quem mora em outro país. Qualquer coisa diferente disso é falta de respeito com as pessoas, com a cidade e com o país.

 


 

 *Luiz Henrique Dias é dramaturgo, encenador da Cia Experiencial O Teatro do Excluído e estudante de Arquitetura e Urbanismo e Gestão Pública. Siga ele lá no twitter: @LuizHDias

 

 

 

 

 

 

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