Search

Pigmeu, "a arte está na minha essência"

 

A entrevista foi marcada por telefone, mas não conhecíamos o Pigmeu, fomos até o ponto marcado no bairro Porto-Meira e esperamos por ele. Passados uns 5 minutos chegou de bicicleta um rapaz todo tatuado, com vários alargadores e piersings. Era o Pigmeu, que por sinal, não é baixinho!

Fernando Dias Gomes é tatuador por profissão e grafiteiro por amor à arte. Aos 27 anos o iguaçuense que descobriu o grafiti em Birigui (SP) se diz orgulhoso por a cidade já estar aceitando as intervenções urbanas como arte, afinal, ele teve de ir embora para conhecer a técnica. Ainda adolescente Pigmeu foi para Birigui – no interior de São Paulo – e se envolveu no movimento Hip Hop, já gostava de desenhar, mas foi lá que conheceu o grafiteiro Etos e se interessou pela arte. Aprendeu a grafitar com o artista paulistano e admite que demorou para se identificar no desenho e definir seu próprio traço.

A família de Fernando teve um pouco de resistência à arte do rapaz, “meu pai queria que eu fosse advogado, ele demorou um pouco pra aceitar que eu sou um artista, mas agora ele já vê o grafiti como arte”. “Não adianta, esse lance tá na minha essência”, afirmou. Ele largou a escola para se dedicar a arte e ao trabalho. Admite que no início não tinha consciência do poder do grafiti enquanto arte de rua, fazia mais por hobby e para deixar os muros coloridos. Passado o tempo começou a estudar sozinho, interagir com outros artistas e acompanhar as reportagem em revistas especializadas. Hoje, em uma breve conversa ele cita a arte rudimentar, o Renascimento e outros movimentos artísticos clássicos. Mostra que sabe do assunto, e conhece seu lugar no meio de tantas vertentes culturais.

 

      Já sofri preconceito por tanta coisa que hoje eu nem ligo mais

As principais referências para Pigmeu são grafiteiros brasileiros, entre eles estão Binho, Zezão, Os Gêmeos – já conhecidos desta série – e claro, Etos, quem o ensinou. Grande parte das ilustrações de Pigmeu são feitas sem permissão, mas na vila onde mora as pessoas já o reconhecem e gostam dos desenhos espalhados pelos muros. Ele afirma que normalmente procura as construções abandonadas para deixá-las mais vivas e chamar atenção. Quando pergunto se já sofreu preconceito por ser grafiteiro ele diz, “já sofri preconceito por tanta coisa que hoje eu nem ligo mais, uso isso como uma forma de me superar sempre”.