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Uma Lei. Para nós, outra

 

 

Dia desses, eu, que não sou muito de sair, resolvi tomar um refrigerante e comer uma porção de batatas-fritas. Para isso, optei por algum lugar “tradicional” da cidade. Até por falta de prática na noite e, consequentemente, não conhecer bem os locais “novos”. Caminhei até o estabelecimento que, há anos, fica na Avenida Jorge Schimmelpfeng.

Entrei.

Como dei aulas em praticamente todos os grandes colégios da cidade, sou razoavelmente conhecido por boa parte dos atuais adolescentes e, logo ao entrar, percebi que eles (meus alunos e ex-alunos) eram frequentadores do local. Muitos abanaram de longe e alguns até chegaram para dar um “oi” de perto. Um deles, no entanto, chamou-me a atenção: estava completamente bêbado.

No começo achei engraçadinho, pois fazia piadinhas. Em poucos segundos, no entanto, o menino mostrou-se fora de controle e precisou vomitar. Sem muitas alternativas – pois já não conseguia mais andar -, vomitou em um canteiro, dentro do próprio bar/restaurante. A cena, assustadora aos meus olhos, parecia normal para todos os outros frequentadores. O fato é que o menino bêbado em questão tinha 14 ou 15 anos.

Como ele, muitos outros “ex-alunos”, a maioria vinda do primeiro ano do ensino médio, bebiam uísque com energético, cerveja, chopp, drinks coloridos e até tequila, livremente.

Muitos, alterados.

Estavam sem os pais por perto e pediam as bebidas diretamente aos prestativos garçons.

Perguntei a uma menina, também ex-aluna, quantos anos tinha, “vou fazer 16”, respondeu, enquanto saboreava um copo de cerveja. Ainda perguntei se os pais sabiam que ela bebia e que ali todo mundo comprava álcool livremente. Ela respondeu que “alguns contam para os pais, mas a maioria deixa quieto” e ainda me confidenciou ser normal comprar bebida no lugar. Durante os 45 minutos que fiquei no local, a polícia militar, guarda-municipal, conselho tutelar, vara da infância e do adolescente ou qualquer órgão público, não deu a cara por ali.

Transtornado, saí e liguei para a PM, que disse estar com as viaturas ocupadas. Na Guarda-Municipal, a prestatividade acabou quando dei o endereço e o nome do estabelecimento. O máximo foi uma indicação do número de telefone do Conselho Tutelar, através de um celular de plantão, que ninguém atendeu. Mais tarde, um amigo, funcionário do local, confidenciou-me ser normal vermos jovens de 15, 16 anos alcoolizados e vista grossa do poder público (para aquele estabelecimento), e um outro amigo, dono de um barzinho na cidade, disse que o Conselho Tutelar sempre aparece no dele e falou não entender o porquê de não aparecer lá “naquele”.

Fui embora assustado.

Será o poder público omisso? Ou será ele seletivo?

Fica a pergunta.

 


 
 

 *Luiz Henrique Dias é escritor. Ele é daqueles caras chatos que não bebe, não fuma e não vê televisão. Mesmo assim, ele gosta de frequentar lugares e observar as pessoas. O Luiz, quando acha que algo está errado corre para cá e reclama, reclama e reclama. Talvez só seja isso que saiba fazer: reclamar. Ou será ele, apenas, um cidadão inconformado? Leia mais em www.blogdoluiz.com.br ou siga o chato do Luiz no twitter @LuizHDias