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Carros e Viadutos

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Certamente o caro leitor já notou o volume assustador de carros em nossa cidade. Alguns, amenizadores de problemas, diriam que “vários turistas visitam a cidade”. Concordo. Mas, mesmo assim, o trânsito em Foz do Iguaçu tem se complicado (e muito) por alguns fatores, sendo o mais preocupante o aumento no número de veículos emplacados anualmente em nossa cidade. Esses novos carros, sonhos da família urbana contemporânea, somados à frota antiga, aos carros de placas paraguaia e argentina e aos turistas que trazem seu veículo ou locam para circular na cidade, vêm tornando trechos das principais avenidas de Foz intransitáveis em determinados horários do dia.

 

Não vou citar a região do acesso à Vila A. Eu seria redundante e não estaria aproveitando este espaço para falar algo novo para as pessoas. Todos sabem que ali reside o maior gargalo da cidade.

 

Mas o que me incomoda é ouvir, diariamente, o discurso repetido “precisamos renovar o asfalto, construir avenidas, duplicar acessos, fazer viadutos, etc, etc, etc.”. Acredito, sim, que o asfalto da cidade está ruim. Acredito na falta de avenidas novas, semáforos e sinalização. Mas o maior culpado é o carro. Ou melhor, o volume de carros. O carro de passeio é a praga da América. Ao optar pelo modelo dos Estados Unidos, os países latino-americanos ensinaram aos seus cidadãos que é bonito, dá status, ter um carro. Aí vemos aberrações como um carro por pessoa da família ou mesmo veículos dotados de cinco ou seis lugares trafegando (ocupando espaço e poluindo) com uma pessoa dentro.

 

Não vejo as pessoas contestadoras da qualidade do asfalto e da falta de viadutos falando mal dos empresários do transporte coletivo, que oferecem um dos piores serviços de transporte urbano do país, a preços injustos e em ônibus sem conforto térmico adequado para o clima de nossa cidade. Certa vez, vi um dono de uma empresa de transporte reclamando da redução do número de passageiros e eu disse a ele ser o transporte coletivo de Foz o maior culpado, forçando o cidadão a querer comprar um carro novo e, consequentemente, contribuir com o trânsito saturado, comum em praticamento todas as grandes e médias cidades brasileiras.

 

E os carros roubam o lugar das pessoas. Prejudicam a convivência e a diversidade. Cada um dentro de sua bolha de aço.

 

Caro leitor, enquanto tratarmos o transporte público como moeda política e não fizermos uma revolução no fluxo de pessoas, dando ao Sistema de Transporte Coletivo agilidade, segurança, preço justo, conforto, modalidade e rapidez, vamos ter de aguentar as pessoas reclamando do asfalto e da falta de viadutos. E aí, se o sonho dessa gente se realiza, vai faltar tinta pra grafitar todos esses monstros de concreto e piche, onde as pessoas passam por baixo e por cima, com a rapidez privando eles do melhor da cidade: a convivência.

 

 


 
 

*Luiz Henrique Dias é dramaturgo, comunista e estudante de Arquitetura e Urbanismo e Gestão Pública. Ele escreve todas as quartas nesse espaço, onde propõe uma discussão acerca da cidade. Você pode ler mais no www.blogdoluiz.com.br ou seguir ele no twitter @luizhdias.

 

 

 

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